Uma freira e um professor começaram, esta terça-feira, a ser julgados num processo em que são acusados de, há dez anos, se terem apropriado de 115 mil contos (575 mil euros) pertencentes a uma idosa de quem eram amigos íntimos.
Os factos remontam ao ano de 1998, quando Lígia Castelo Branco, na altura com 75 anos e viúva, celebrou contratos de venda de dois imóveis que possuía em diferentes pontos da cidade do Porto: um foi vendido por 65 mil contos, outro por 50 mil. No entanto, e apesar de os compradores terem emitido cheques em nome da reformada - que morreu vítima de cancro, em Setembro de 2001 -, esta nunca terá chegado a receber aqueles montantes.
De acordo com a acusação do Ministério Público (MP), o dinheiro foi parar às contas dos dois arguidos: uma freira, agora com 79 anos, e um professor, de 58 anos, acusados de dois crimes de abuso de confiança. No início do julgamento, não quiseram prestar declarações, mas admitiram vir a fazê-lo em futuras sessões.
Os dois réus eram amigos de longa data de Lígia Castelo Branco. Conheciam-na há cerca de 30 anos e com ela participaram em vários passeios e outras iniciativas, muitas de cariz religioso. A relação entre os três tornou-se ainda mais próxima, a partir de Setembro de 1997, quando, após a morte do marido, a idosa foi morar para a Ordem da Trindade, no Porto, onde permaneceria até falecer. Segundo a acusação, os arguidos - em particular a freira - passaram a ser quase as suas "visitas exclusivas" e os seus "intermediários" com o mundo exterior, tratando-lhe de todas as questões relacionadas com negócios e gestão do seu vasto património. Terão mesmo, de acordo com o MP, "impedido" que a reformada contactasse com a família, nomeadamente com os seus dois filhos e legítimos herdeiros.
A arguida era, mesmo, titular, juntamente com Lígia Castelo Branco, de um cofre num banco, onde a segunda guardava jóias e outros objectos de valor. Os acusados terão beneficiado, também, de alguns bens que lhes foram sendo doados pela septuagenária., ao longo da sua vida.
No caso dos 115 mil contos (575 mil euros) resultantes da venda dos imóveis, a freira e o professor são acusados de se terem apoderado do dinheiro "sem o consentimento" da proprietária.
Ontem, os dois filhos da falecida, Gilberto e Luísa Castelo Branco, afirmaram que sobretudo a arguida tinha muita "influência" sobre a mãe. "Ela orientava e decidia o que a minha mãe devia fazer", reiterou a filha. "Nos últimos anos, a minha mãe ficou mais fragilizada e cada vez mais dependente dela", confirmou o filho, garantindo que Lígia "sempre disse que o dinheiro das vendas dos imóveis era para os filhos."
Fonte: Jornal de Notícias