Pinto da Costa lança "O portador de alegrias"

É apresentado esta quinta-feira, às 18.30 horas, no Palácio da Bolsa, no Porto, "O portador de alegrias", livro que aborda a figura de Pinto da Costa, líder do F. C.Porto, sob a vertente artística e humanística. O JN antecipa excertos da obra.

Quanto ao teatro, desde que possa ir, quanto mais cedo puder ir melhor, não deixo para amanhã. Mas gosto na mesma se não for na estreia, se for passada uma semana.

Praticamente nunca convivemos, mas existe entre nós uma grande empatia, e da minha parte uma grande admiração por ele. Conhecemo-nos há vários anos. Recordo-me de ele ter ido ver "A rainha do ferro velho", e lembro-me que, depois de uma representação daquela revista em que eu fazia de Ary dos Santos (A revista é liiiinda), ele fez questão de irmos cear num restaurante muito bonito em Leça da Palmeira. Lembro-me, também, de que uma outra vez fomos jantar num hotel simpaticíssimo no Porto; e estamos regularmente juntos, nestas coisas de estreias, num convívio normal. Eu acho giro haver esta empatia.

Pinto da Costa tem um dom natural das tábuas. Tem-no, naturalmente, e essas coisas existem ou não nas pessoas. Ele tem-no: pela forma como fala publicamente; pela postura; pela própria relação com as câmaras. Vê-se que é algo que não é ensaiado, que não é previsto - ele sabe é que há ali uma presença, e que está a ser ouvido, obviamente, e então faz sentir a sua voz de uma forma muito teatral. Há como que uma relação de amor com as câmaras. Tem também uma relação muito positiva com o público, e possui o timing certo das reacções às palmas, aos risos, a seja o que for. Eu acho que ele tem muito de actor nesse sentido.

Cativa milhares de pessoas, como me cativou a mim, pelo seu discurso, pela sua forma de falar e de estar. Por aí não podem pegar- -lhe, e é por isso, se calhar, que muitos dos seus opositores têm uma dor de cotovelo incrível, porque não sabem, como ele, expor e explicar as suas ideias ao público. E é isso, no fundo, que interessa, porque Jorge Nuno Pinto da Costa é presidente de uma instituição como o Futebol Clube do Porto, que é uma instituição importantíssima em Portugal. Ele expõe todas as suas ideias e as formas de gerir a instituição de uma forma em que as pessoas acreditam. A figura dele suscita tanta inveja porque ele consegue os fins a que se propõe, e os outros não. É também por aí que se constata que a representação dele é muito boa em relação aos outros.

É um homem cultíssimo, que gosta de teatro, de ópera, de todos os géneros de teatro. A ligação dele com a cultura de uma maneira geral é algo de fantástico. Porque ele é um homem ligado ao mundo do futebol, e futebol e cultura são mundos que, à partida, nada têm tido a ver um com o outro, têm sido meios completamente distintos. É por isso exactamente que Pinto da Costa marca a diferença. Nós, gentes de teatro, e as pessoas ligadas à cultura de uma maneira geral não podemos deixar de ser sensíveis a isso.

E tem um tom, em cena! Eu acho que ele poderia ter sido um belíssimo actor, porque tem um tom! Tem um timbre muito bonito, que é agradável. E tem também um sentido de humor muito apurado, uma inteligência acima da média, e diz as coisas com uma subtileza e uma ironia que têm muito a ver com os grandes actores, principalmente com os do teatro mais ligeiro, como a revista e as comédias, onde normalmente há lugar ao improviso rápido. Ele tem um sentido do improviso único, é fantástico. Portanto, talvez um dia façamos uma peça, não sei…

O melhor papel para ele seria o de … Jorge Nuno Pinto da Costa. Fá-lo como ninguém e ninguém o faria melhor do que ele.

Conheci muito bem o padre Luís Rodrigues, da Lapa. Era uma figura! E um grande músico. Conheci-o muito bem porque ele era visita íntima da casa do meu tio Armando, irmão da minha mãe. Eles eram muito amigos e ele ia lá jantar todas as semanas.

O padre Luís Rodrigues tinha uma particularidade notável.

Ele dizia a missa na Lapa, e tinha a igreja, que é grande, sempre cheia de uma ponta à outra. As pessoas chegavam até à rua. Isto, porque ele conseguia um feito que nunca mais vi igualar: começava a missa ao meio-dia, e ao meio-dia e trinta a missa estava terminada. E não aldrabava nada, fazia uma homilia normal, levava aquilo seguidinho, sei é que em meia hora as pessoas tinham a missa acabada.

Eu ia sempre à missa lá, ao meio--dia, e era fantástico porque era uma missa interessante: ele falava muito bem, mas falava muito bem mesmo, não se alargava muito, e aquilo era meia horinha certa. Ia-se a outra igreja e as missas eram chatas, e demoravam 45, 50 minutos.

Regia também um coro óptimo, e a igreja tinha um órgão fantástico.

Continuo a ir à missa, mas não à Lapa. Agora, costumo ir aqui ao lado, à igreja de Nevogilde, às onze horas.

Curiosamente, há tempos, regressei à igreja da Lapa, e ao meio dia… mas já não é o mesmo.

Lá demorou uns 45 minutos, assim uma coisa.


Fonte: Jornal de Notícias