A cocaína é a terceira droga mais consumida na Europa, a seguir à cannabis e às anfetaminas, mas o seu uso tem vindo a assumir maior importância. E a sua entrada na UE passa cada vez mais por Portugal e Espanha.
Altos níveis de transmissão da sida relacionada com o consumo de droga injectada continuam a caracterizar Portugal, segundo o relatório anual do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência. O documento, hoje tornado público, refere o nosso país também com uma posição de relevo no campo da "oferta" de droga, no caso, a cocaína.
As novas rotas desta substância a partir da América Latina passam pelo ocidente africano e têm como principais pontos de entrada a Espanha e Portugal. Relativamente ao nosso país, o relatório indica que o fenómeno "aumentou desde 2005", referindo mesmo os principais canais: navios de pesca vindos das costas africanas, com locais de desembarque na costa Norte portuguesa. A Galiza é outro dos destinos. Em 2006, no nosso país, foram apreendidas cerca de 34 toneladas.
A nível europeu, as drogas estimulantes, como as anfetaminas, são as mais consumidas a seguir à cannabis. Esta última parece, entretanto, estar a estabilizar ou mesmo a diminuir no seu consumo. A resina de cannabis proveniente do Norte de África tem vindo a ser substituída pela produção de cannabis herbácea em campos e quintais.
O relatório sobre o problema da droga na Europa indica que se verifica um aumento continuado do recurso à cocaína num pequeno número de países e chama a atenção para indícios de que as substâncias opiáceas sintéticas ganham terreno.
As anfetaminas, o ecstasy e outras "pastilhas de festa" constituem em alguns países o primeiro plano do consumo, depois da cannabis, enquanto que noutros países da UE esse lugar é ocupado pela cocaína. As anfetaminas e o ecstasy, associadas a ambientes de diversão nocturna, têm das prevalências mais baixas em Portugal. Mas o relatório lembra ser na Europa que se situam quase 80% dos laboratórios de anfetaminas.
Quanto ao ecstasy, em 2006 foram apreendidos 14 milhões de comprimidos. O LSD poderá estar a ressurgir. A geografia europeia da droga indica que os países do Norte e do Centro têm maior consumo de anfetaminas, enquanto os do Sul têm predominância do consumo de cocaína. Na UE morre em cada hora um jovem por overdose.
Ainda relativamente a apreensões, têm diminuído as de heroína, cuja origem está sobretudo situada no Afeganistão. Mas a produção deste país aumentou e o maior tampão à sua chegada à Europa tem sido a Turquia, com um aumento de apreensões.
As preocupações do relatório apontam também para uma nova forma de tráfico de substâncias, esse feito a partir de lojas virtuais na internet, que, "com fins aparentemente legítimos", colocam em venda mais de 200 produtos psico-activos naturais, semi-sintéticos ou sintéticos. Cogumelos são um dos produtos citados.
No retrato sobre os consumidores, são destacados ainda aspectos como a maior vulnerabilidade dos jovens que estão a cargo de instituições sociais e dos que abandonam precocemente a escola. Também os estudantes com problemas sociais, económicos ou familiares são presas fáceis do consumo. Entre os consumidores em tratamento, há níveis elevados de desempregados e sem-abrigo.
Fonte: Jornal de Notícias